ÍNDICE

  1. APRESENTAÇÃO
  2. INTRODUÇÃO
  3. CARACTERIZAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
  4. ECOSSISTEMAS DA MATA ATLÂNTICA
  5. INTERAÇÃO DOS ANIMAIS COM A FLORESTA
  6. AÇÕES DO HOMEM CONTRA A MATA ATLÂNTICA
  7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

4. INTERAÇÃO DOS ANIMAIS COM A FLORESTA

Durante milhões de anos as plantas e animais da Mata Atlântica desenvolveram uma estreita, bastante complexa, mas harmoniosa relação, que possibilitou a sobrevivência das espécies. Desta relação foram constituídos os ecossistemas, que se mantém em perfeito equilíbrio. No entanto, a intervenção humana nestes ecossistemas tem rompido este tênue equilíbrio. A simples coleta de frutos na floresta, como por exemplo a castanha-do-pará, provoca grandes desequilíbrios a longo prazo, conforme comprovado cientificamente, já que deixa os animais sem comida e estes desaparecendo não haverá mais a dispersão das castanheiras na floresta; a coleta de orquídeas por exemplo, pode exterminar, numa determinada região, algum inseto que específico para polinizar a flor de uma árvore da floresta, e sem polinização não haverá frutos o que provocará o extermínio desta espécie de árvore e morte de muitos animais que se alimentam de seus frutos. A atividade de apicultura em áreas preservadas, aparentemente inofensiva, pode provocar o desaparecimento de muitos insetos da nossa fauna, devido à competição por néctar e pólen com as abelhas africanizadas, introduzidas no Brasil.

 

Figura 4.1 Fruto da árvore cabo-de-rodo (Guatteria australis). Através da intervenção humana, a relação de interdependência que havia entre plantas e animais foi rompida, resultando no desequilíbrio dos ecossistemas.
 
Figura 4.2 Fruto da pindabuna (Duguetia lanceolata), árvore típica da Mata Atlântica, muito saboroso, apreciado por muitos animais.
 
Figura 4.3 Fruto da canela-burra. As sementes das muitas espécies de canelas (árvores muito cobiçadas por madeireiros) são semelhantes a esta. Geralmente, são dispersadas por aves, como os sabiás.

 

A interdependência das plantas e animais pode facilmente ser notada em muitos exemplos. A dispersão das sementes é uma delas. A árvore dá o fruto para alimentar o pássaro, por exemplo, e este, ao ingerir o fruto, dispersa a semente, para bem longe da árvore mãe, pois é importante que as sementes não germinem logo embaixo da árvore para não competir com ela própria.

 

Figura 4.4 Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus): uma das aves responsáveis pela dispersão das sementes de palmito (Euterpe edulis).
 
Figura 4.5 Embaúba (Cecropia glazioui): árvore pioneira que também ocorre na floresta primária em áreas abertas (encostas, margens dos rios etc.). Seus frutos (ver figura abaixo) são muito apreciados por aves e mamíferos, dispersores de suas sementes.
 
Figura 4.6 O fruto da embaúba é apreciado por inúmeros animais da floresta. Suas sementes são dispersadas por mamíferos como o mão-pelada e o quati e por aves como as saíras, os sábias e os sanhaços.

 

Há espécies de plantas que não precisam de animais para dispersar suas sementes. Estas plantas desenvolveram outros mecanismos, como o vento. Mas a dispersão por animais ocorre para a maioria das espécies de plantas. Entre as árvores da Mata Atlântica, por exemplo, mais de 90% das espécies precisam de animais para dispersar suas sementes. Além disso, aquelas que têm suas sementes dispersadas pelo vento podem depender dos animais, insetos geralmente, para a polinização.

O cipó-mil-homens (Aristolochia triangularis; Família: Aristolochiaceae) é um exemplo de planta que tem suas sementes dispersadas pelo vento, mas depende de insetos para polinização.

 

 
Figura 4.7 Flor e cápsula de semente do Cipó-mil-homens (Aristolochia triangularis) que depende de insetos para polinização, enquanto as sementes são dispersadas pela ação do vento. A imagem acima mostra uma cápsula madura (seca) que ao se abrir libera as minúsculas sementes, muito leves para serem levadas pelo vento.

 

As orquídeas são outro exemplo de plantas cujas sementes são dispersadas pelo vento, mas a polinização é por insetos, para a qual as orquídeas desenvolvem estratégias altamente sofisticadas como os mais variados perfumes e armadilhas para forçar o inseto a transportar o pólen de uma flor para outra.

 

Figura 4.8 Orquídeas: suas sementes ao dispersadas pelo vento. Os botões das flores desta espécie de (micro) orquídea da Mata Atlântica da região norte de SC tem uma particularidade: ficam imersas num gel até as flores desabrocharem. É uma proteção contra o ataque de insetos, provavelmente. As sementes das orquídeas apresentam outra particularidade muito interessante: são minúsculas, muito leves (em forma de pó) e numerosas (cada cápsula contém milhares de sementes) para facilitar a dispersão e, assim, são desprovidas de reservas nutritivas (amido). Para germinarem, portanto, necessitam se associarem (simbiose) a um fungo (micorriza), que lhes provém as reservas nutritivas.

 

Algumas árvores da Mata Atlântica desenvolveram uma relação tão estreita com os animais que podem ter um inseto específico para realizar sua polinização, que pode ser uma espécie de abelha silvestre, por exemplo. Sua flor pode ser tão delicada que somente aquela espécie pode realizar o serviço. Então, quando o homem introduz abelhas africanizadas com o propósito de produzir mel, estas podem competir e exterminar com a abelha nativa ou estragar a flor (por causa do tamanho), provocando o declínio da população daquela espécie de árvore e seu conseqüente extermínio na região a longo prazo (que pode demorar séculos), rompendo com o equilíbrio de toda a floresta (ecossistema).

 

Figura 4.9 Abelhas silvestres visitando flor carregada de pólen

 

No caso da dispersão das sementes, há casos também de árvores que têm um animal específico ou preferencial, de modo que, como no caso da abelha nativa, citada acima, se um desaparecer, o mesmo acontece com o outro. Por isso a caça de animais silvestres, como a paca e a cotia, acarreta grandes desequilíbrios na floresta, já que estes animais são dispersores preferenciais de muitas espécies de árvores.

 

Figura 4.10 Fruto do bacupari, cuja semente é dispersada pela cotia, principalmente.
 
Figura 4.11 Cotia - Principal dispersor das sementes do bacupari, através da estocagem, ou seja, a cotia tem o hábito de esconder as sementes para comê-las em época de escassez. No entanto, acaba esquecendo ou ignorando algumas e, assim, planta o bacupari.

 

O serelepe é também um grande dispersor da semente (coquinhos) do coqueiro-jerivá e do ticum. Ele esconde parte das sementes, enterrando-as, para comê-las depois. No entanto, ele esquece algumas e assim possibilita que germinem.

 

Figura 4.12 Serelepe, o mais importante dispersor das sementes do coqueiro. Assim como no caso da cotia (veja foto acima), o serelepe esconde os coquinhos como reserva de comida para enfrentar períodos de escassez, mas acaba esquecendo alguns e, assim, dissemina os coqueiros pela floresta.
 
Figura 4.13 Fruto do ticum (Bactris lindmaniana). As sementes do ticum também são dispersadas pelo serelepe, ao escondê-las.

 

A DISPERSÃO (sementes) e a POLINIZAÇÃO são as dependências mais diretas que as plantas têm dos animais. Mas ocorrem outros tipos de dependências bem mais complexas, como as relações de presas-predadores (as aves controlando a população de insetos que atacam as plantas, como as lagartas, por exemplo), as relações de simbiose (um beneficiando o outro), como a relação da formiga e da embaúba.

A DISPERSÃO das sementes e a POLINIZAÇÃO das flores são as dependências mais diretas que as plantas têm dos animais.

 
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