CARACTERÍSTICAS DOS ANFÍBIOS PERERECAS RÃS SAPOS
 
 

ÍNDICE

  1. EVOLUÇÃO E ORIGEM DOS ANFÍBIOS
  2. RELAÇÃO DOS ANFÍBIOS COM O HOMEM
  3. BIOLOGIA DOS ANFÍBIOS
  4. ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO DAS ESPÉCIES DA MATA ATLÂNTICA DA REGIÃO NORTE DE SC
  5. PREDAÇÃO DE ANFÍBIOS
  6. BIBLIOGRAFIA
  7. AGRADECIMENTOS
 

2. Relação dos Anfíbios com o Homem

2.1 A origem do preconceito contra os anfíbios

Muitas civilizações antigas veneravam os sapos. Para os egípcios, a criação do homem e dos deuses era atribuída à deusa Heket, personificada por uma mulher com cabeça de sapo, e seu marido Khnumu, representado por um homem com cabeça de cabrito. Os egípcios tinham grande respeito pelos sapos, considerados como futuros bebês. O símbolo hieroglífico da deusa Heket era uma rã e o número 100.000 era representado por um girino, possivelmente devido à grande quantidade no período de procriação das rãs. Para agradecer à deusa Heket pelos favores prestados, as mulheres egípcias usavam um amuleto na forma estilizada de uma rã.

Já chineses e indianos acreditavam que o mundo apoiava-se nas costas de um sapo gigante e que os terremotos ocorriam devido à movimentação desse sapo. Outra crença era de que os eclipses ocorriam porque um sapo engolia a Lua. Na China, as rãs protagonizam muitas lendas. Nessa cultura essas criaturas sempre foram tema obrigatório na pintura e nas artes cerâmicas, estilizadas em vasos, potes e peças entalhadas.

Na América Central, a civilização Maia considerava o coaxar das rãs como uma manifestação do deus Chac para anunciar a chuva que fazia brotar o verde nas planícies secas. Por meio dessa associação com a água, as rãs eram relacionadas não somente com o crescimento das plantas, mas também com a fertilidade e com o nascimento. Girinos e rãs adultas faziam parte da decoração de potes, roupas e ornamentos dos Maias. Efígies de pedra ou de barro, na forma de rãs estilizadas, eram sepultadas com os mortos. Por fim, os índios brasileiros consideravam os anfíbios como guardiões das águas.

Figura 2.1 - Amuleto (sapinho esculpido em pedra) que pertenceu aos índios Anasazi encontrado em Pueblo (povoado ou vila) Chaco Canyon, no deserto de Novo México, EUA. O lugar era habitado pelos índios Anasazi que viveram ali entre os anos de 850 e 1250, e foram extintos por devastarem toda a floresta de um verdejante vale, o que causou o rebaixamento do lençol freático e secou todos os rios e nascentes. Hoje o local é um grande deserto.

 

Porém, nem sempre as rãs tiveram tanta sorte. Na Idade Média, rãs e sapos ganharam um papel sinistro na Europa, onde eram associadas, geralmente, à manifestações do mal e bruxarias. Todo esse horror aos anfíbios deve-se ao fato de os sapos serem uma paródia de nós mesmos, dadas as similaridades das formas de nossos corpos.

Infelizmente, a sociedade moderna herdou essa péssima impressão dos europeus medievais, o que faz com que não seja dada a devida atenção aos anfíbios, elementos-chave para o equilíbrio do riquíssimo ecossistema de nossas florestas tropicais, onde, ao contrário da Europa, é fabulosa a diversidade de espécies.

A biologia moderna nasceu na Europa, mais precisamente na Alemanha, e classificou os répteis e anfíbios como sendo animais inferiores às aves e aos mamíferos pelo fato de terem sangue frio, termo, aliás, criado por eles.

No entanto, nota-se que o fato de possuírem sangue frio é até vantajoso para um ser vivo. Os animais de sangue frio utilizam diretamente a energia solar para regular sua temperatura, não necessitando de grande quantidade de alimentos. Já os animais de sangue quente necessitam de uma quantidade enorme de alimentos para gerar a energia interna utilizada na regulação da temperatura corporal.

Atualmente, não se empregam mais os termos sangue frio e sangue quente. Os animais que regulam internamente a temperatura (aves e mamíferos) são denominados ENDOTÉRMICOS e os que regulam a temperatura de acordo com as condições do ambiente (répteis e anfíbios), são denominados EXOTÉRMICOS.

2.2 Benefícios dos anfíbios para o homem

Os sapos, rãs e pererecas são animais de extrema importância para o equilíbrio da natureza: eles controlam a população de insetos e de outros animais invertebrados e servem de comida para muitas espécies de répteis, aves e mamíferos.

Se não fossem os anfíbios, o mundo teria tantos insetos (pernilongos, moscas, etc.) que a espécie humana já teria deixado de existir há muito tempo, pois não seria possível controlar doenças como dengue, febre amarela e malária, que são transmitidas por picadas de insetos. Sem os anfíbios, a quantidade de pragas nas plantações de banana e outras lavouras seria tão grande que não haveria veneno suficiente no mundo para combatê-las e todos morreriam de fome ou envenenados em poucas semanas.

Os sapos, rãs e pererecas devem ser numerosos para controlar a quantidade de insetos. Poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados para formação de lagoas para criação de peixes têm reduzido a quantidade de anfíbios e, em certas regiões, eles já foram extintos. Se for determinado o peso de todos os bichos existentes numa área ainda não destruída pelo homem, verificaria-se que os anfíbios pesam mais do que os répteis, aves e mamíferos que ali vivem, ou seja, a biomassa dos anfíbios é maior que a de outro grupo de animais. Por constatações como estas, conclui-se que o extermínio dessas criaturas traz conseqüências graves para a natureza, afetando os humanos de forma direta.

2.3 Como devo chamar? Sapo, rã ou perereca?

O Brasil tem mais de 700 espécies de anfíbios anuros1 , daí a grande dificuldade de se fazer distinção entre sapo, rã e perereca, conforme definido nos dicionários.

A Língua Portuguesa falada em Portugal apresenta, oficialmente, apenas os termos sapo e rã. A palavra perereca, que foi incorporada ao português falado no Brasil, vem da língua indígena tupi-guarani e significa andar aos saltos. O termo era empregado, de forma genérica, pelos índios para designar os anfíbios. Com o passar do tempo, o termo perereca passou a ser empregado pela população em geral para designar somente aqueles anfíbios anuros dotados de discos aderentes na ponta dos dedos, que servem para escalar árvores e paredes.

Para denominar os anfíbios, pode-se usar as seguintes nomenclaturas:

Sapo: A pele é rugosa e fosca; tem bolsas nas laterais (glândulas parotóides).

Figura 2.2 - SAPO-COMUM (Bufo ictericus) - Fêmea

Rã: Tem pele lisa e vive no chão.

Figura 2.3 - RÃ-MARROM (Leptodactylus flavopictus) - Macho

Perereca: Possui discos aderentes na ponta dos dedos para subir em árvores e paredes.

Figura 2.4 - PERERECA-GARGALHADA (Scinax rizibilis) – Fêmea


Figura 2.5 - Detalhe da pata dianteira da Perereca-catarinense (Scinax catharinae), mostrando uma características das pererecas: a ponta dos dedos em forma de disco, que são adesivos o que permite a escalada em árvores e paredes

2.4 Os sapos mordem?

Os sapos não mordem e as pererecas não grudam nas pessoas; os discos aderentes são suficientes apenas para suportar o peso do corpo, de alguns gramas, na vertical. Sapos não têm unhas, garras afiadas ou dentes fortes (apenas um serrilhado frágil). Portanto, não há motivos para temê-los. Mesmo que quisessem morder, os sapos não conseguiriam. Eles não usam a boca para morder ou mastigar os insetos e outros bichos que comem, como faz a maioria dos animais: usam somente a língua (fixada na parte da frente da boca, na maioria das espécies) de forma tão rápida que não é possível acompanhar. Tudo acontece em um piscar de olhos: quando o sapo vê o inseto, se aproxima ou espera que o inseto venha até ele; a uma certa distância do inseto, projeta seu corpo e lança sua língua, que tem a ponta pegajosa para que o inseto grude. Por fim, o sapo retrai sua língua, puxa o inseto para dentro da boca e o engole inteiro, sem mastigação (Veja ilustração na Figura 3.3).

2.5 Os sapos têm veneno?

Só na Floresta Amazônica existem algumas pequenas rãs coloridas que possuem veneno, mas este está contido na pele e, como não mordem, não há meios de aplicarem esse veneno nas pessoas.

Os sapos têm uma bolsa em cada lado da cabeça, denominada glândula parotóide, com uma estrutura esponjosa contendo um líquido leitoso. Eles não espirram “leite” nas pessoas, a não ser que alguém aperte as bolsas. É claro que ninguém vai fazer uma maldade dessas, não é mesmo?

Mesmo em contato com a pele, esse líquido leitoso não faz nenhum mal: não é venenoso e só causa irritação se for colocado na boca. O sapo utiliza esse líquido apenas para se defender dos predadores.

Exemplo: se um cachorro mordê-lo, a irritação provocada pelo “leite” o obriga a soltar o sapo imediatamente, e o cachorro acaba aprendendo que não deve perturbar os sapos. Portanto, não há motivo para ter medo dos sapos.

Para se alimentar, os morcegos costumam caçar sapos pequenos durante a noite, mas evitam comer a cabeça onde ficam as bolsas com “leite”. O mesmo faz o Mão-pelada, conforme mostra a imagem da Figura 5.9.

 
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